Era uma tarde de quarta feira, 27 de maio de 2009. O céu estava limpo de um azul celestial brilhante, mas no horizonte, nuvens escuras se formavam ameaçadoras. Provavelmente, mais chuvas viriam para aquela região. Naquela tarde quente, sem que ninguém previsse o que estava prestes a acontecer, a vida continuava simplesmente; Cada um cuidando de seus afazeres. Mas um episódio marcaria de forma extraordinária, a história da tragédia dos Algodões. Estou me referindo aos jovens José e Maria que estavam prometidos em casamento. Eram noivos e já faziam planos para a vida a dois. Há tempo que José a namorava e de vez em quando procurava Maria. Cobrava  relação sexual com ela, afirmando que estavam noivos e nada tinham a perder, mas sempre era compelido com a expressão. "Só depois de casarmos". Esta frase era um bálsamo para os seus ouvidos, apesar do descontentamento, pois demonstrava, de forma explícita, para José, que era uma pessoa de confiança. Acreditava que com aquelas palavras ele tinha uma mulher de respeito e daria uma ótima esposa no futuro. Naquela tarde, José aproveitou o tempo e foi à casa de uns parentes e enquanto conversava, tomava uma deliciosa xícara de café, acompanhado com bolo de goma, sentado sobre o peitoril da casa. Já Maria, aproveitando a tarde ensolarada levou algumas trouxas de roupas para lavar as margens do rio pirangi. Era  quase quatro horas da tarde, quando de repente veio a notícia, que uma das placas de cimento, da parede do açude algodões tinha rompido, e era acompanhada por milhões de metros cúbicos d’agua, que descia rio abaixo destruindo tudo pela frente. O alarme foi dado rapidamente. Os moradores cuidaram de juntar seus pertences, animais, roupas e fugirem o mais rápido possível do povoado Franco. Pois em questão de minutos tudo estaria destruído. Era uma cena dantesca. Pessoas idosas, homens, mulheres e crianças fugindo em disparada para os lugares mais altos, no entorno das serras. As mães contavam suas proles e se desesperavam a não encontrar todas. Gritavam pelos seus nomes. Muitos choravam e imploravam a Deus por suas vidas. Não sabiam bem para onde irem. Mas não havia tempo para pensar. Era preciso correr. José, sabendo da notícia, saltou sobre  seu cavalo. Lembrou de Maria que fora lavar roupas e não sabia de nada. Não havia  um minuto a perder. Era preciso salvá-la. Correu ferozmente meio a mata. Assustado, observou uma onda gigante que corria paralelo ao seu cavalo provocando redemoinhos. José sabia que não havia muito tempo. De longe, avistou  Maria e gritou desesperadamente pelo nome da amada. É preciso alcançá-la. Maria ao ouvir os gritos de José, levanta se para observar a onda engolir a dupla, cavalo e homem, que vem rolando meio as águas amareladas e ao encontro  dela. Torna se um turbilhão. Animais passam berrando, arrastados pela força da onda gigante. Logo Maria não encontra mais terra nos pés. José, acostumado a nadar no rio, luta freneticamente, conseguindo se aproximar de Maria que agonizava ao beber muita água. Com um dos braços puxa a água, e com o outro arrasta Maria para um ponto mais alto. São minutos exaustos, deitam-se meio a uma coroa  de terra, que fica no alto de um precipício. As águas cercaram nos,  por todos os lados. Maria chorava convulsivamente. Tinha certeza  que iriam morrer! Horas passam e com elas, a noite chega. Nenhum barulho, somente o som das águas que jorra por todos os lados. A lua brilha e ilumina o cenário desolador. Maria, agora mais calma encontra se deitada nos braços de José sobre aquela grande pedra que serve como cama. Um deitado ao lado do outro. Maria surpreende José e diz ao amado. Você me quer? O que mais quero na vida, Maria! Exclamou José.__ Pois sou sua. Somente sua! Surpreendido, José procura os olhos de Maria. Seus olhos se fitam e um longo beijo brinda   aquele momento. As roupas molhadas são jogadas, uma a uma, para o lado da pedra enquanto os corpos nus, iluminados pelo clarão da lua, se deleitam de amor e prazer. Gemidos cortam o silencio da noite e se mistura ao som das águas, mas agora não é de dor, e sim de prazer. Extasiados, cansados mais felizes dormem sobre o altar divino e a proteção do luar.


Na manhã seguinte, as águas baixaram e foram resgatados pela defesa civil. Os dois tinham uma estranha alegria no rosto que ninguém conseguiu entender. Sorriam e se olhavam de forma carinhosa. Sempre de mãos dadas. Pouco tempo depois, contraíram matrimônio. O segredo daquela noite só foi descoberto nove meses depois, quando nasceu uma linda menina  que recebeu o  nome de VITÓRIA.

Autor: João Passos