Gostaria descrever em versos a história de minha Cocal. Rabiscar em um papel branco a vida do povo desta terra natal. Falar desta terrinha querida que um dia a chamei de “Cidade Cabôcla, Morena do Babaçu”, a virgem linda das campinas, com jeito de dengosa, e gosto de caju. Mas Cocal crescera, 68 anos se passaram, e a menina virou mulher. É uma senhora respeitada, adulta e educada, mesmos com traços de menina-flor, a filha da Parnaíba, e do sertão guerreiro, homem trabalhador.

Ô Cocal, minha bela menina-mulher, tão precoce, já és mãe de grande família. Dos teus cantos e recantos, alegrias e tristezas podes contar, pois muitas vezes banhada de sangue, viu por terras filhos ilustres se acabar; Mas a todos na história soube acalentar, em seu solo, seus corpos sepultar, para um dia puder, às gerações futuras, a sua história contar.

Ô Cocal, que nasceste ao som das badaladas do velho sino de uma estação, e dos trilhos que como veias cortavam de norte a sul, este torrão, ligando o Piauí, do mar à capital desta região. Das palmeiras, o fruto ,o côco brotou, nas terras de Camila, a cidade se formou, sempre cortejada por aventureiros e viajantes que por aqui passou. Com olhos brejeiros a namoravam.

Ô Cocal-Flor de Menina, com seu jeito singelo e um futuro promissor, inúmeros pretendentes a esta terra adotou e dela fez moradia, tornando se um belo caso de amor.

Nos seus primeiros anos, um fato lhe entristeceu, pois fora, nestas terras, aprisionado, um pobre homem, que por aqui desceu. Era João Cartomante, um caxeiro viajante, que fora condenado por um crime que não cometeu, e muito injustiçado sofreu as piores torturas, e das surras até a morte. O seu corpo padeceu. A jovem Cocal chorou. O silêncio foi seu lamento, pois o homem fora assassinado, a cidade se cobriu de luto mas o seu nome imortalizado.

O tempo passou. Cocal cresceu imponente, faceira e sedutora. Suas estradas são suas curvas que corre pelo seu corpo. Seus encantos e riquezas de cabôcla faceira. Sua fauna e sua flora, suas belas cachoeiras, cabelos de sedução; Suas serras, seus seios, formosura da tentação. No pó da carnaúba, a sua face embelezou da menina do sertão, a mulher se formou. O tempo se fez presente, e a jovem se fez mãe, a guiar os seus filhos, pelos caminhos da vida, sempre com as benção de Nossa Senhora. Mas outra tragédia viria com muita comoção e a bela Cocal se abalaria. Algodões! De suas paredes, água sangrou, de um grande estrondo, seu útero abortou. Desabando no vale da agonia, fúria, dor e morte. Cocal, nove filhos morriam! E caía por terras em desespero meio a lama e a ironia. Chorou, chorou seus filhos soterrados, vestiu-se de luto, mas não silenciou ao descaso. Gritou de dor que ecoou Brasil afora bradando um pedido de socorro. Cocal é cidade guerreira, e quando pensavam que ela não conseguiria superar o trauma, levantou-se, bravamente, enxugou suas lágrimas, bateu a poeira e criou a Avaba. O Brasil, passou a falar de Cocal. Em pouco tempo tornou se ainda mais bela. Recebeu inúmeros presentes que a fez mais importante. Hoje, adulta, madura, és senhora, dona de sua própria história. Cocal está mais bonita, arrumada, enfeitada, pronta para festa de seu aniversário. Desfila com elegância pelo corredor do futuro. Cobiçada, invejada pelas outras... ao verem o teu sucesso. É Cocal! Das palhas das palmeiras que um dia te cobristes, hoje é apenas um símbolo do passado. Por tu te vestes de talentos, conquistas e vitórias. Teus filhos seguem o teu exemplo de guerreira, de senhora, sem perder a doçura de mãe. Ô terra querida, teus filhos se espalham pelo mundo levando o teu nome nas mais diversas áreas que se fazem presentes .


Hoje, a jovem Cocal está agraciada por seus filhos, conterrâneos e visitantes. Completa 68 anos de história. Reverenciada, elogiada, é ela, a dona da festa, e como anfitriã, convida a todos , com brilhos nos olhos e a alegria no coração para comemorar mais uma data de sua emancipação. Seus filhos a aplaudem, fogos são estourados, champanha são abertas, festa e exaltação, mas é Cocal, cidade flor de menina, que abraça a todos os seus filhos sem distinção, amavelmente os chamando pela alcunha de cocalenses. Mas somos nós que comemoramos com grande satisfação e a parabenizamos esta extraordinária cidade mãe, apelidada carinhosamente de “Cocal da Estação”.

Parabéns Cocal
João Passos